The Office gera muita discussões por conta de sua primeira temporada. Uns dizem que pode pular e outros dizem que ela é essencial para estabelecer a personalidade dos personagens. Além destes, existe mais um grupo de lunáticos que dizem que assistir a primeira temporada é algo ótimo para quem está revisitando a série (eu tô nesse grupo aí).
Mas hoje, quero trazer a discussão para o outro extremo do show. Um ponto constantemente ignorado pelos fãs que, talvez por doer demais, acabam fingindo que não existe: A última temporada de The Office.
Logicamente, a partir daqui teremos uma enxurrada de spoilers, então CUIDADO!
Como sabemos, ao final da sétima temporada de The Office Michael Scott nos deixa e não volta nunca mais. Quase nunca mais. E esse é um dos pontos que, ao meu ver, afasta todo mundo do que vem depois. O final de Michael na série é tão doloroso quanto um final de relacionamento para o telespectador. E o pior, é um término onde o ambiente não nos deixa superar. Continuar assistindo The Office depois da saída do Michael é uma constante comparação com o passado. Um eterno “não é a mesma coisa”.

Séries como The Office nos ganham pelo cotidiano, assim como toda grande série de comédia. Nós gostamos de voltar, pois sempre que voltamos está tudo exatamente como a gente gosta. O próprio humor do seriado depende disso, afinal as piadas só ganham graça a partir do próprio contexto que a série nos dá. A gente ri do Dwight porque sabe que ele é doidinho. A gente simpatiza com o Michael porque sabe que ele é coração, apesar de tudo.
Ou seja, uma série como The Office, que se tornou um lugar de conforto pelo cotidiano convidativo que nos faz se sentir em casa, perde MUITO com a saída de sua estrela.
Imagine que você era muito feliz em sua casa e um dia sua família se mudou. Você volta depois de um tempo para “se sentir em casa” de novo e percebe que as coisas não são mais como eram, pois quem viveu suas grandes memórias ao seu lado não está mais ali. As últimas temporadas de The Office são exatamente isso.
Totalmente sem rumo
A saída de Steve Carell, o Michael, causou um grande problema aos roteiristas da série. Vemos isso na CONSTANTE busca por um novo protagonista. Isso passa pelo insuportável Deangelo (Will Ferrell), pelo até interessante Robert California (James Spader) e pela esquecível Nellie (Catherine Tate). Grandes atores, péssimas escolhas de roteiro.
Eu nem cito o Andy nessa parte porque ele é uma vítima da necessidade de encaixar alguém no gigantesco buraco deixado por Michael Scott.
Inclusive, talvez o Andy até pudesse ser uma solução, mas seu destino o tornou um personagem completamente detestável no final da série. Tanto pela escolha do ator Ed Helms em focar no filme Se Beber Não Case, quanto de seus roteiristas, que se vingaram disso das piores formas possíveis. Mas enfim.
Assim como um escritório sem chefe, a série sem protagonista não tinha muito por onde ir. As pequenas e charmosas características dos personagens secundários se tornaram desculpas para contar histórias estranhas. Cada dia uma tiro para cada lado. E assim, tivemos poucos bons episódios entre vários que não acrescentam muita coisa.
A solução sempre esteve na série
Uma das características mais presentes de Dwight desde o começo da série é sua vontade de assumir a filial de Scranton. Tanto que ele já chegou a trair o Michael para isso. Porém, por conta de suas excentricidades ele sempre foi deixado de lado. E bom, isso também aconteceu com o seu interprete, Rainn Wilson, de certa forma.

Enquanto diversos atores caríssimos foram contratados para tentar suprir a ausência de Steve Carell, Rainn sempre esteve ali com todo seu carisma. E isso fica evidente na reta final da última temporada, quando ele finalmente ganha o destaque que merece nos roteiros. Aliás, ele ganhar a filial talvez seja a maior redenção da série, maior até que o romance de Jim e Pam.
E é exatamente nessa última parte que a série melhora BASTANTE e até nos faz esquecer por um tempo que ela está nos seus últimos dias. O que deixa tudo ainda pior. Quando a pequena filial da Dunder Mifflin tem Dwight e Jim como foco tudo fica legal. E mostra como tudo poderia ter sido assim o tempo todo, mas não tem mais como voltar e mudar. Os últimos episódios da série nos lembram como era bom quando não sabíamos que o fim estava chegando.
Michael no fim, enfim
Desde a saída de Steve Carell o nome de Michael nunca mais é citado. Pode reparar. Seu nome só volta à série na reta final da última fase da produção. Primeiro numa piada da Pam, que brinca sobre estar grávida e provoca Jim falando que “Michael Scott Jr” vem aí. Depois, com a própria Pam encontrando uma versão MUITO bem feita de Michael, interpretada por Bob Odenkirk (Better Call Saul).
(inclusive nos faz pensar que ele poderia ser o cara de The Office antes de vários outros que tentaram)
Tudo anuncia a chegada de Michael e isso deixa a série num ar de final cada vez mais envolvente. Os sinais, tais qual uma referência ao hit de Alceu Valença, já indicam que Michael vem.
A tímida volta de Steve Carell, praticamente sem falas, é perfeita. A última pegadinha de Jim. A forma como ele simplesmente aparece na tela, sem grandes expectativas, é de uma pureza tão grande que nos faz perceber a sinceridade das lágrimas nos olhos de Rainn Wilson, o Dwight. Um final tão bom que chega a ser amargo. Dolorido. Evitável. Maravilhoso.

E muita gente evita mesmo
A verdade é que existe muita coisa boa na última temporada de The Office, principalmente na fidelidade do encerramento de arco dos personagens menores. Kelly casando, tendo filho e largando tudo pra fugir com Ryan, Kevin dono de boteco, Jim e Pam se aventurando na cidade grande… tudo é muito bom.
Evitar pensar nos encerramentos e recomeçar a série antes da saída de Michael é talvez uma forma de tentar fingir que as coisas continuam as mesmas. Não dá pra julgar. Mas uma hora precisamos encarar os últimos episódios.
É muito fácil falar da primeira temporada de The Office. Difícil é abrir o coração para a última.
Bora trocar uma ideia sobre quadrinhos? Pois siga o Guia Etuíno de Entretenimento no Orelo e no Instagram! Então só clicar aqui! Com isso você tem um contato ainda mais próximo da gente.
Comentários