Wandinha, o novo sucesso da Netflix, rendeu uma discussão acalorada nas redes sociais no começo dessa semana. Porém, não foi seu conteúdo o principal assunto, mas sim a necessidade da série se chamar Wandinha no Brasil. Diversos internautas estão se perguntando porque Wednesday foi “traduzida” dessa forma.

Primeiro é muito importante lembrar que o objetivo de uma dublagem é muito maior que uma tradução literal. A dublagem não traduz, ela localiza. E isso várias vezes envolve os nomes dos personagens. Wednesday, por exemplo, significa quarta-feira em inglês. Será que faria sentido uma personagem de desenho infantil ter esse nome?

Mais que isso, precisamos lembrar que a Wandinha faz parte de uma franquia MUITO antiga. A obra surgiu em tirinhas nos ANOS 30, pelo cartonista Charles Addams. Os nomes dos personagens foram estabelecidos alguns anos depois. Em 1964 nasceu a primeira obra fora dos quadrinhos da Família Addams: Uma série para a televisão. E só ali os nomes foram realmente construídos para conversar diretamente com a identidade de cada personagem.

Sim, cada nome tem sim uma função na criação da personalidade do personagem. É exatamente por isso que no nosso contexto existem tantas traduções.

Patolino originalmente se chama Daffy Duck, por exemplo. Hortelino Trocaletra, se chama Elmer. E isso não é exclusividade do mercado do Brasil.

Sabia que o Cebolinha se chama Jimmy Five nos Estados Unidos? Para nós pode não fazer sentido. Agora pensa na criança americana: Será que Little Onion seria um bom nome de personagem?


Dublagem e a Ditadura Militar

Um fato que merece atenção também é o quanto a ditadura militar já influenciou na questão da dublagem nacional. Em meio a discussão no Twitter, o perfil Tudo sobre Dublagem lembrou que a série da Família Adams teve sua adaptação realizada durante a ditadura no Brasil. No começo dos anos 60 o governo batia forte num projeto de lei de dublagem obrigatória. Polêmica, a ordem era que toda obra fosse completamente dublada, então até os nomes acabavam trocados por versões brasileiras.

Clique aqui para ler um artigo completo sobre essa obrigatoriedade, postado na Revista FAMECOS.

Não podemos afirmar com certeza de que isso foi o principal motivo do surgimento do nome Vandinha, mas faria bastante sentido.

A série da Netflix

Na nova série, Vandinha virou Wandinha. A escolha da Netflix é um reforço ao trabalho de localização realizado há décadas. Mudar o nome de uma personagem tão querida a essa altura do campeonato seria muito mais arriscado. Inclusive, na própria série da Netflix existe um momento que fala sobre isso.

Na cena, Mortícia da um medalhão com um M, do seu nome, para a filha. Ela afirma que isso é uma ligação das duas, já que o W é um M de cabeça para baixo. Já imaginou o tanto que teria que mudar do roteiro se o nome dela fosse Quarta-feira? Mãozinha é outro ótimo exemplo. Se ele simplesmente se chamasse “Coisa”, a brincadeira com o seu conceito seria muito menos impactante.

Resumindo: Dublagem é localização, não tradução. A tradução é apenas uma parte do extenso trabalho de localização de um personagem para uma cultura diferente. Se esse trabalho é complicado hoje, imagine então há 40 anos.

Dar vida a um personagem através da dublagem não é apenas traduzi-lo. O dublador, mais do que qualquer coisa, insere esse personagem na nossa realidade, contextualiza ele. Afinal, é assim que conseguimos criar identificação com alguma coisa.

Sem falar que ao usar Wandinha, a Netflix homenageia uma personagem icônica que, mesmo americana, fez parte da infância de muitos brasileiros.

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